Por um mundo mais humano

Se você não esteve em outro planeta na última década e tem qualquer interesse em empreendedorismo, sabe que – segundo os especialistas rs – presença online é imprescindível. Essa tal presença foi tendo significados e impactos diferentes com o passar dos anos, até se tornar a entidade não compreendida mas reverenciada que é hoje. Você já parou para pensar por um minuto no que ela significa? 

Antes das redes sociais, existiam os blogs. Não vou voltar tanto assim no tempo, já que o mundo contemporâneo pede velocidade. Mesmo nós, amantes do ritmo lento, temos de nos curvar de vez em quando. Ao invés de falar por parágrafos e mais parágrafos sobre minhas aventuras no mundo do HTML construindo templates de blogspot, focarei nos anos 10s, a segunda década dos anos 2000. 

Existiu um tempo em que as redes sociais eram povoadas prioritariamente por pessoas. Empresas não sabiam o que fazer com a internet, não passava pela cabeça delas como aquilo poderia render dinheiro. Não falo sobre gigantes e start ups e empresas milionárias fundadas em garagens, falo sobre o pequeno empreendedor, sobre a padaria do bairro, o churrasquinho da esquina e a boleira do andar de cima. O que você faria com essa ferramenta recém descoberta? Vamos levar em consideração a realidade do nosso povo, ao invés de olhar para negócios de fora, ou ter a falsa ilusão de uma inclusão digital que mesmo hoje ainda não é realidade no país. 

Nesse tempo de alcance orgânico e possibilidades, o capitalismo ainda não tinha vencido. O que você postava chegava a audiência. Para além da qualidade, a constância fazia toda a diferença: quanto mais postagem, mais interações, mais curtidas e por aí vai. E então o capitalismo rapidamente aprendeu como tirar dinheiro de todo mundo. A cada mudança de algoritmo e função, um sem fim de negócios vai à falência ou chega muito perto disso. É isso que acontece quando delegamos nossa economia e sobrevivência a intermediários. 

De lá até aqui, a internet foi muito além das redes sociais, apesar de ainda girar ao redor delas. Vendemos de graça nossos dados, ignorando o valor dos nossos pensamentos e cotidiano, e hoje em dia também temos intermediários sabotando nosso mercado gastronômico e de transportes, atiçando o povo contra o povo e normalizando condições de trabalho absurdas (para dizer o mínimo). O alcance orgânico terminou de morrer de vez, e vemos uma infinidade de novos negócios tentando em vão alcançar a superfície da tal presença online. Hoje, vale mais a curtida distante do que o vizinho que compraria seu bolo com muita alegria. O vizinho procura e procura pelo aplicativo querendo comer um docinho, e termina pedindo uma sobremesa de uma grande rede. Ele nunca vai encontrar seus bolos, por mais que você faça postagens e stories e vídeos todos os dias. O algoritmo trabalha contra nós e a favor da rede, que ganha mais e mais dinheiro. Intermediários. Ganham dos negócios, do público, de todos os lados, enquanto chafurdamos em serviços mal prestados e empreendedores que vendem a janta para pagar o almoço. 

E se começarmos agora a fazer diferente? Se começarmos hoje a revalorização do ser humano e do mundo real? Esse não é um problema da pandemia, é um problema do capitalismo. A internet precisa ser meio, não fim. Meio para estabelecer relações de confiança com fornecedores, parceiros e clientes. Meio para estar em contato. Os clientes existem no mundo real, e chegamos a estes clientes através de ações que façam girar a economia e tragam o dinheiro para onde ele deve estar: entre o povo. Chega de pagar por anúncios em redes sociais, de deixar intermediários decidirem o que vamos comer, de colocar nossa vida em risco nas mãos de empresas que querem nossa derrocada. Eles sabem que gente feliz não gasta dinheiro a toa, e contribuem o quanto podem para nossa infelicidade. 

Com tudo, nossa proposta é a (Re)humanização. Ao invés de gastar com anúncio e marketing digital, investir em materiais que existam no mundo real. Materiais e ações que não sejam e não gerem lixo, e que contribuam de alguma forma com a realidade e a humanidade. Vamos trazer de volta as brochuras, os livretos, as cartilhas e guias! Por aqui se imprime em gráfica familiar, nada de usar gigantes do setor que estão a muitos e muitos quilômetros de distância. Vamos trazer de volta as ações em comunidade, os cafés da manhã, as rodas de conversa e reuniões. Enquanto o mundo real não nos permite agir na totalidade dos nossos sonhos, façamos da internet um meio poderoso rumo a um futuro econômico mais justo, próximo e genuinamente conectado: ao invés de ativar o bot de resposta, converse com seu cliente. Mostre que existe um ser humano do outro lado da tela. Deixo Renato fechar esse texto: “a humanidade é desumana, mas ainda temos chance”.

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