Virginia Woolf: gênia* da zuêra!

Não sei como os peixes e se sentem, mas, tirando por aquela história reveladora em que dois peixes conversam sobre o oceano, imagino que depois de um tempo nadando por aí seja cada vez mais raro encontrar algo surpreendente, algo que faça parar pra dizer Uau! Olha só isso! E faz sentido: um mar de coisa existe no mundo, mas, de tudo, o que é realmente impressionante e vai deslumbrar a gente fundo?

Com a leitura é a mesma coisa!

Anos e anos nessas águas e a gente lê um pouco de tudo. Os mistérios, os mangás, os romances, os ensaios, os quadrinhos. Do tijolo teórico de 700 páginas à novela breve, obscura e divertida que a gente nunca mais esquece (sério, você já leu Os 13 tique-taques? muda a vida!). Mas mais ainda do que um bom livro, penso no raro que é tropeçar numa grande autora ou num grande autor.

Virginia Woolf pairava no ar como um fantasma distante, mas vizinho; era um nome impossível de desconhecer mas que cheguei até esse tropeço sem ler. Mas só até aqui!

Profissões para mulheres e outros artigos feministas é um livrinho breve da L&PM que reúne alguns textos não ficcionais. O que encontrei nele não foi nem a morbidez nem a seriedade grave que imaginava; pra minha alegria e surpresa, Virginia Woolf é uma autora não apenas genial, mas um verdadeira gênia da zuêra! Logo nos primeiros parágrafos eu já estava rindo alto da agudeza da ironia e da sofisticação insana que ela usa quando escreve.

Não estava diante de mim nenhum monstro de intelecto frio ou inalcançável: mas uma voz pungente e desafiadora, afiada e sagaz ao extremo, extremamente interessante de ouvir e impossível de parar de ler. Fazia um bom tempo que eu não lia 20 páginas sem piscar…

No final, aprendi duas lições. A primeira é que não faz sentido julgar a obra de alguém pelas circunstâncias da sua morte. A segunda é LEIA VIRGINIA WOOLF!

*Depois de descobrir a parcialidade suja do termo “gênio” – que basicamente pressupõe que mulheres não podem ser, por si mesmas, geniais, e, portanto, quando muito, devem ser chamadas de “gênio” – me recusei a usá-lo. Que morra no tempo mais essa marca de segregação!

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